27 de junho de 2012

›› VALE DO JEQUITINHONHA ÁREAS INTEIRAS DE MATA ATLÂNTICA SÃO LIBERADAS PARA DESMATAMENTO


Nos últimos dois anos, região desmatou cerca de 3 mil hectares de mata. Apenas 7% da área nativa desse bioma ainda sobrevive à ação do homem.

Na mata fechada é possível encontrar clareiras e fornos de carvão ainda acesos. No norte de Minas Gerais, o chamado Triângulo do  desmatamento é considerado pela ONG SOS Mata Atlântica como a região que mais destruiu esse tipo de bioma no país.

O triângulo é formado pelos municípios de  Jequitinhonha,  Ponto dos Volantes e  Águas Vermelhas. Nos últimos dois anos, a região desmatou cerca de 3 mil hectares de  Mata Atlântica.

Na entrada do município a placa indica que  Águas Vermelhas respeita o meio ambiente, mas o município foi responsável por quase 20% de todo o  desmatamento em Minas Gerais entre 2010 e 2011.

A ONG usou imagens de satélite e fez sobrevoos. Márcia Hirota é diretora da SOS  Mata Atlântica. As imagens servem de documento no relatório preparado pela fundação.

Parte de uma área no município de  Águas Vermelhas, no norte de Minas Gerais, que há menos de um ano era ocupada por mata nativa já tem o plantio de eucalipto.

A lei 11.428, de 2006, deixa expresso que o corte de vegetação primária no Bioma  Mata Atlântica só pode ser autorizado em caráter excepcional para obras de utilidade pública, pesquisa científica e práticas preservacionistas. No caso de matas em outros estágios de regeneração, caberá ao órgão estadual competente conceder a licença ambiental.

Não é difícil encontrar tratores derrubando e arrumando toras recém-cortadas. Trabalhadores de uma carvoaria que colocavam toras nos fornos confirmaram que retiraram a madeira de uma área de mata nativa. No local fica a fazenda Paty, que pertence ao fazendeiro Paulo Daniel Antunes Sposito, conhecido como Seu Dadá, que mora em Vitória da Conquista, na Bahia.

O fazendeiro Paulo Daniel Antunes Sposito não quis dar entrevista, mas por meio de nota informou que a propriedade foi o primeiro imóvel da região a conseguir autorização para a supressão da cobertura vegetal nativa com destoca para a produção de carvão vegetal nativo e o cultivo de eucalipto. Ele enviou ainda cópia dos documentos emitidos pela Secretária de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais. Um dos documentos, que vence em janeiro de 2014, permite a supressão de 50 hectares de mata nativa e outro para 90 hectares, que vence em agosto deste ano.

Em Minas Gerais, muitos fazendeiros têm licença para o desmate. Desde 2011, é a Supram, Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o órgão que concede as licenças no estado. O escritório regional do Alto Jequitinhonha, responsável pela atuação na região, fica em Diamantina, distante quase 500 quilômetros de  Águas Vermelhas. Segundo a superintendente Eliana Piedade Machado, as autorizações são aprovadas por uma comissão formada por vários órgãos ambientais. De 2008 para cá, foram conseguidas 180 licenças de desmate na região, num total de 18 mil hectares.

“É uma região que tem um desenvolvimento socioeconômico muito precário. A gente tem que pensar também na realização de atividades econômicas. Por muitos anos, a economia local se baseou na cadeia produtiva do carvão. Hoje, a gente tem a citricultura chegando fortemente na região. É uma atividade econômica. A região precisa também se desenvolver. O grande desafio é conciliar esse desenvolvimento com a preservação ambiental”, justifica Eliana.

As autorizações concedidas no município de  Águas Vermelhas se basearam na avaliação que as áreas são de  Mata Atlântica Secundária, em estágio inicial de regeneração. Por isso, é exploração pode ser permitida. Para caracterizar o estado de uma vegetação são analisados fatores como o porte das árvores, a densidade das matas e a existência de espécies vegetais protegidas por lei.


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