Pescadores dizem que peixes são cada vez menores e mais raros nas águas do Rio Doce
GOVERNADOR VALADARES – O desaparecimento dos peixes da Bacia do Rio Doce pode estar relacionado à poluição de um dos principais afluentes dela, o rio Piracicaba. De acordo com a pesquisadora Marluce Teixeira Andrade Queiroz, mineração ao longo de décadas, falta de aterros sanitários e falhas no tratamento de esgoto domiciliar teriam contribuído para o aumento da concentração de mercúrio e arsênio na bacia. Os metais pesados foram encontrados nas águas do Piracicaba durante uma pesquisa feita em 2006.
“O mercúrio vem principalmente de lâmpadas fluorescentes e baterias de celulares. Esses materiais foram parar no rio devido à falta de locais adequados para recebê-los, como aterros sanitários, uma carência entre os municípios que fazem interface com o rio Piracicaba”, diz Marluce, que é professora de engenharia sanitária ambiental da Unileste, em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. Já o arsênio estaria ligado à atuação de mineradoras.
O mercúrio foi encontrado no organismo de uma espécie de peixe conhecida na região como acará. Músculos dos animais recolhidos foram analisados no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear do Conselho de Energia Nuclear (CDTN/Cnen), em Belo Horizonte.
“Usamos o acará como indicador da poluição porque esse peixe não é migratório, ou seja, nasce e morre no mesmo lugar. O acará se alimenta de sedimentos, do que encontra no fundo do rio, e por isso encontramos mercúrio no organismo dele”, diz Marluce.
Segundo a pesquisadora, as concentrações desse metal e de arsênio estavam acima do limite tolerável pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), mas não há registro de pessoas contaminadas ou que passaram mal depois de consumir os peixes ou entrar em contato com a água. “Um estudo sobre essa perspectiva poderá contribuir para ações direcionadas à saúde pública”, diz.
O contato de pessoas com grandes concentrações de mercúrio pode provocar até lesões cerebrais. No caso do arsênio, o risco é o de câncer de pele. “Os percentuais acima do limite tolerável não são um bom indicativo, mas não se pode afirmar que tenham afetado a população humana”, esclarece.
Marluce acredita que o maior rigor das legislações ambientais fez com que as empresas melhorassem a qualidade dos rejeitos lançados nos rios da região, mas diz que ainda são necessários investimentos para a recuperação dos cursos d’água, como o tratamento de esgoto.
Fonte: http://www.hojeemdia.com.br